07/11/2022 - Mercado Pago debate como ser a principal instituição do cliente
VoltarPor Mariana Ribeiro |Valor Econômico
Paula Arregui: retorno tem de acompanhar crescimento de forma saudável — Foto: Divulgação
Após quase duas décadas de existência, as discussões dentro do Mercado Pago estão menos focadas em como trazer novos usuários para o ecossistema e mais em como batalhar pela principalidade desse cliente. Aumentar o engajamento de empresas e pessoas físicas com os diversos produtos financeiros ofertados pela companhia está entre os principais objetivos para 2023. A avaliação foi feita por Paula Arregui, diretora de operações (COO) do braço de serviços financeiros do Mercado Livre, em entrevista ao Valor.
No equilíbrio entre rentabilidade e crescimento, o banco digital está mais preocupado hoje em entregar resultados do que esteve no passado. Isso não significa, no entanto, deixar de fazer investimentos nas áreas consideradas corretas, mesmo que elas ainda não sejam rentáveis, acrescenta a executiva. O Chile é um exemplo de mercado novo que atrai os recursos da empresa.
“Estamos crescendo muito bem, muito forte, mas com uma palavra adicional que se tornou crítica nesse contexto de mercado global que é ‘sustentavelmente’”, diz a executiva, que vive na Argentina, sede da empresa. “Queremos manter um negócio não de investimentos com resultados que venham daqui a dez anos, mas sim fazer com que esse investimento tenha um retorno que acompanhe o crescimento de forma saudável.”
Em um momento de desafios globais, Arregui destaca que o mercado está menos disposto a apostar em crescimento sem saber quando o retorno vai chegar. Para ela, o fato de a fintech ter uma base de clientes sólida, com mais de 40 milhões de usuários únicos, dá mais espaço para que siga investindo em apostas futuras.
“O Chile é um exemplo, é um mercado novo, onde as licenças acabaram de chegar. Parte dos investimentos que fizemos em outros países no passado devem agora ser feitos nesse mercado que achamos que será super relevante para a companhia”, afirma a executiva, que participou do evento Money 20/20, em Las Vegas.
Presente hoje no Brasil, na Argentina, no México, no Chile, na Colômbia, no Peru e no Uruguai, o Mercado Pago teve uma receita líquida de US$ 1,2 bilhão no terceiro trimestre, alta anual de 115%. Do total, mais da metade diz respeito ao Brasil. A receita líquida do Mercado Livre como um todo foi de US$ 2,7 bilhões.
Arregui destaca que a empresa está hoje inserida nos quatro pilares de produtos financeiros: pagamentos, investimentos, crédito e seguros. De acordo com ela, é devido a essa capilaridade que, no momento, a fintech discute como se tornar a principal instituição de relacionamento dos clientes.
“Toda essa questão de fazer com que um usuário que ingressou pelo produto ‘A’ comece a usar cada vez mais produtos vai ser muito o nosso foco no ano que vem”, afirma. “Ao final do dia, a discussão é sobre como ter o cliente engajado com a nossa solução. Isso é melhor tanto para a plataforma quanto para o cliente, porque podemos apresentar ofertas melhores.”
Ela defende que o fato de atuarem nas quatro verticais e terem o Mercado Livre como parceiro, ou seja, conhecerem bem vendedores e indivíduos, são diferenciais frente a outras instituições financeiras e de pagamentos.
Para 2023, a ideia é expandir a oferta de serviços nas quatro verticais, afirma a COO. A companhia está mais cautelosa na oferta de crédito, desacelerando ao longo do ano, por exemplo, as concessões no cartão de crédito, linha de maior risco. A carteira total segue crescendo, mas em ritmo menor. No terceiro trimestre, o portfólio alcançou US$ 2,8 bilhões, de US$ 1,1 bilhão um ano antes e US$ 2,7 bilhões no segundo trimestre.
“Começamos emprestando para quem conhecíamos mais e nossos modelos foram se sofisticando até o ponto em que conseguimos dar crédito em mar aberto”, diz Arregui. Para ela, a oferta de crédito é instrumento fundamental para incentivar a substituição do uso de dinheiro em espécie pelos meios eletrônicos de pagamento na América Latina. Para operar na região, é preciso ainda saber adequar as ofertas às necessidades de cada país, defende.
O Mercado Pago nasceu em 2003 para suprir uma necessidade de pagamentos dentro do Mercado Livre e seu crescimento acompanhou as mudanças regulatórias na região, diz a executiva. A primeira onda foi a de criação das instituições de pagamentos e a segunda esteve muito ligada a pagamentos instantâneos, que fossem mais eficientes e interoperáveis.
Agora, para ela, as tendências estão ligadas a open finance, para aumentar a concorrência na indústria, e a criptomoedas. “O Brasil é um mercado onde essas ondas chegam primeiro e sempre foi um ambiente de muito aprendizado para a gente.”
Em agosto, o Mercado Livre lançou a sua própria criptomoeda, que funcionará como uma espécie de “cashback” para engajar a comunidade de usuários e fortalecer seu programa de fidelidade. Por ora, a Mercado Coin está sendo oferecida para cerca de 50% da base de clientes no Brasil e, segundo Arregui, “em poucos meses” a oferta será expandida para todos os clientes.
Sobre o cenário econômico, afirma que operar em meio a instabilidades faz parte da rotina de negócios na América Latina. “Essas situações críticas acabam mais sendo uma oportunidade”, diz. “A Argentina está com 70% de inflação. Conseguimos criar uma proposta de valor para que todas as pessoas que tem dinheiro no Mercado Pago estejam ganhando 60% de taxa. Não alcança, mas fica perto da inflação. No banco é zero.”