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25/07/2019 - Cielo ensaia retomada em meio à ´guerra de preços´

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VALOR 
Por: Flávia Furlan e Juliana Machado 

A estratégia da credenciadora de cartões Cielo, controlada por Banco do Brasil e Bradesco, de ganhar mercado abrindo mão de rentabilidade deu os primeiros sinais de que está surtindo efeito. A empresa reportou forte queda no lucro do segundo trimestre, mas um avanço da base de clientes e do volume de transações que foi suficiente para os investidores começarem a rever suas apostas na queda dos papéis da companhia. As ações, que iniciaram o pregão desta quarta em queda, acabaram por fechar em alta de quase 13%.

“A indústria de adquirência é a grande aposta de bancos, fintechs, varejistas e empresas de tecnologia e as margens de todos estão sob pressão”, disse Paulo Caffarelli, presidente da Cielo, a jornalistas. “Mas nossa estratégia focada em participação de mercado foi acertada. Voltamos a crescer.”

A base de clientes foi a 1,4 milhão de abril a junho, crescimento de 14% frente ao mesmo trimestre do ano passado. Já o volume financeiro somou R$ 164,5 bilhões, aumento de 8,9% em um ano e de 4,9% na comparação com os três primeiros meses do ano, o maior avanço desde o terceiro trimestre de 2017. De abril a junho, a empresa teve um lucro líquido atribuído aos acionistas de R$ 431,2 milhões, queda de 33,3% em relação ao mesmo período do ano passado. A margem Ebitda, por sua vez, foi de 26,7%, ante 39,2% um ano antes.

Analistas afirmam que o resultado da credenciadora ficou abaixo do esperado, mas que há sinais de melhora. “De fato, um senso de urgência parece estar prevalecendo e a Cielo está mostrando sinais de que está disposta a lutar”, dizem os analistas do BTG, em relatório.

O resultado da empresa decorre de uma reprecificação diante do ambiente competitivo, que atingiu metade da base de clientes. Com isso, a rentabilidade, medida pela receita média gerada sobre o volume capturado, teve redução de 25 pontos-base no segundo trimestre, frente ao mesmo período do ano anterior, para 0,82%.

A Cielo tem avançado entre os clientes do varejo — com até R$ 15 milhões de faturamento anual —, público que teve reforçada a oferta de serviços no ano passado. A venda de máquinas, demandada por esse público, somou 850 mil em 14 meses, e deve chegar a 1 milhão até outubro. No segundo trimestre, pela primeira vez o crescimento do volume financeiro desses clientes alcançou o mesmo ritmo dos grandes clientes.

Clientes de menor porte têm margem maior e aderem mais à antecipação de recebíveis. Da base de microempreendedores clientes da empresa, 60% são aqueles que nunca usaram adquirência, e 40% são “rouba-monte”, que vieram de concorrentes.

Com os resultados anunciados, a empresa espera ganhar participação de mercado no segundo trimestre deste ano. A Getnet, segunda colocada no mercado, controlada pelo Santander, reportou um volume de captura de R$ 46,9 bilhões no segundo trimestre, expansão anual de 6%. É menor que o ritmo de 16% de crescimento que havia sido verificado no primeiro trimestre, frente ao mesmo período de 2018.

Num ambiente competitivo, que reduz fortemente as receitas do MDR (taxa cobrada a cada transação) e da antecipação de recebíveis, a Cielo quer ampliar a base de clientes e desenvolver novos produtos. “A adquirência hoje é commodity. O desafio é buscar novas receitas e avenidas de negócio, transcendendo o modelo de adquirência atual”, diz o diretor financeiro, Gustavo Sousa.

Nesse sentido, a empresa anunciou que tem um projeto piloto de crédito “fumaça”, produto tradicionalmente oferecido por bancos. Chamado de Receba Mais, ele libera até duas vezes o faturamento mensal em 48 horas. Já foram fechados 700 contratos, no total de R$ 40 milhões, mas assim que o produto for oficialmente lançado, poderá alcançar R$ 1 bilhão em 12 meses.

A taxa cobrada é de 2% a 3% ao mês, mais alta que na antecipação de recebíveis tradicional, porque o novo produto tem risco maior por usar projeções de recebíveis na análise. O funding virá do Bradesco, que fará análise de crédito do cliente e pagará uma taxa para a Cielo, mas outros bancos podem ser parceiros. A Cielo também oferecerá diretamente a modalidade, com funding de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), o que é a preferência, porque torna o produto menos custoso.

Sobre o desempenho nos próximos trimestres, Caffarelli disse que “quem define o preço é o mercado, porém a empresa tem apetite para continuar no jogo da competição”.

O Safra ressaltou o resultado das subsidiárias, como a Cateno, que teve um Ebitda de R$ 311,8 milhões, e disse que a Cielo está tendo sucesso na defesa de sua participação de mercado, embora com “forte deterioração nos preços”.

Nesta quarta, as ações da Cielo fecharam com alta de 12,89%, a R$ 7,62. Entre os motivos, estava um movimento de “short squeeze”, quando os investidores vão às compras para cobrir posições vendidas, que são apostas na queda do papel. A Cielo tem 9,5% das ações em circulação alugadas, a uma taxa ao redor de 6% ao ano, uma das mais altas entre as empresas do IBrX-100.

Segundo os analistas do BTG, com a ação abaixo de R$ 7, preço-alvo para o papel no banco, eles dizem ser perigoso “apostar contra” .

Para André Gordon, gestor da administradora GTI, que tem posição no papel, há um “piso” para a Cielo na faixa entre R$ 6 e R$ 7. “A empresa tem musculatura para atacar a concorrência: ela precisou derrubar taxas, o que estabiliza o preço da ação para baixo, mas dificilmente as demais companhias terão condições de fazer movimentos ainda mais agressivos”, afirma. “É prematuro achar que é um negócio que vai acabar.” (Colaborou Álvaro Campos)

 

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