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22/01/2019 - Credenciadora pode se tornar o ´banco do pequeno lojista´

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VALOR 

A compra do Banco Brasileiro de Negócios (BBN) pela PagSeguro é o primeiro passo da estratégia da companhia para se tornar o "banco do pequeno lojista". A ideia, segundo especialistas, é ampliar a oferta de serviços para além das maquininhas de cartão e soluções de pagamento para e-commerce, trazendo serviços bancários tradicionais como conta corrente, seguros e crédito.

Boanerges Ramos Freire, da consultoria especializada em cartões e meios de pagamentos Boanerges & Companhia, afirma que desde a abertura de capital a companhia mostrava interesse em segmentos além da adquirência. "Era esperada essa evolução, oferecer mais serviços financeiros para esses clientes, pequenos varejistas e vendedores, que estão na fronteira entre a pessoa física e a jurídica."

Segundo analistas e executivos do setor de pagamentos ouvidos pelo Valor, com o desenvolvimento de um banco, a PagSeguro quer num primeiro momento oferecer crédito ao pequeno lojista, e sem esbarrar na Lei da Usura, do Banco Central, que proíbe que os juros cobrados em um empréstimo vindo de uma instituição não financeira sejam superiores ao dobro da taxa Selic.

Hoje, a empresa já oferece empréstimos através da fintech Biva, controlada pelo grupo desde o final de 2017. Porém, como essa startup funciona como um correspondente bancário da financeira Socinal, a PagSeguro não consegue cobrar taxas de juro à sua escolha. Com o banco, além da autoridade para cobrar a taxa de juros que lhe for conveniente, a PagSeguro pode oferecer qualquer produto de crédito, sendo que, como instituição de pagamentos, só pode fazer antecipação de recebíveis.

"Com um banco, o cenário muda completamente, porque não há uma limitação de cobrança de juros, e é possível conceder créditos que costumam ter juros mais altos", diz Carlos Daltozo, chefe de renda variável da casa de análises Eleven Financial Research. Ele afirma que a Cielo também esbarrou nessa limitação há cerca de dois anos e, por isso, montou um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) para captar recursos e poder fazer a antecipação dos recebíveis de seus clientes.

Mas a PagSeguro não deve parar no crédito. Segundo uma fonte ligada ao assunto, a empresa quer ser um banco para o pequeno lojista. O objetivo é oferecer serviços como conta corrente e seguros para um público menos bancarizado. "A ideia é fazer com que o lojista não precise mais do banco comercial. Ela aí passa a concorrer com os 'bancões'. E a empresa tem um espaço grande para crescer, porque muitos dos seus clientes e dos pequenos lojistas são desassistidos por esses bancos", diz a fonte.

Outras credenciadoras independentes devem seguir a PagSeguro e investir numa estrutura bancária. Essas empresas, novatas no mercado, têm uma visão de que a maquininha de cartão vai se tornar uma commodity, com a retenção do cliente baseada numa solução completa de serviços.

Segundo Eduardo Rosman, analista do BTG Pactual que acompanha o setor, empresas como PagSeguro e Stone - apesar de usarem estratégias diferentes, com a primeira mais voltada ao pequeno lojista e a segunda ao modelo tradicional - têm o objetivo de ser "muito mais que uma adquirente". "Com banco, a PagSeguro pretende ter mais flexibilidade para oferecer mais produtos financeiros para os seus clientes, sem ficar dependendo de parceria com terceiros. O movimento vai nessa direção", afirma o analista.

Com essa estratégia, as empresas têm conseguido ganhar mercado. Segundo estimativas do Credit Suisse, a PagSeguro deve ser responsável por 6% do volume de pagamentos com cartões feito no país neste ano. As líderes do setor (Cielo, Rede e Getnet) concentravam, em 2016, 89% do volume de pagamentos, fatia que, segundo o banco, caiu para 80% em 2018. No período, credenciadoras como PagSeguro e Stone saíram de 3% para 10%.

 

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