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17/10/2018 - Stone ignora eleição e atrai Buffett em IPO nos EUA

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VALOR 

Por: Maria Luíza Filgueiras 


Não faltaram alertas de bancos e gestores sobre o risco de uma oferta pública inicial de ações (IPO) bilionária de uma companhia brasileira neste momento, em plena turbulência eleitoral. Mas a empresa de meios de pagamento Stone resolveu seguir em frente e, ao que tudo indica, pode se dar bem. Um grupo de nomes de peso, incluindo o bilionário investidor americano Warren Buffett, está embarcando na operação.

A companhia pretende levantar até US$ 1,1 bilhão na oferta. A Stone, dona das maquininhas verdes de processamento, foi criada há apenas cinco anos. Seu conselho de administração é presidido por um dos fundadores e acionista, André Street, executivo de 34 anos de idade.

Ontem, a Stone comunicou sua faixa indicativa de preço por ação, entre US$ 21 e US$ 23, para sua listagem na Nasdaq. Ao preço médio, vai chegar à bolsa com um valor de mercado de US$ 5,9 bilhões. No prospecto, a companhia informou que há um grupo de investidores interessados em adquirir a maior parte das ações ofertadas. Trata-se de um tipo de ancoragem - mas, nesse modelo, não há obrigação de compra, só uma sinalização. Os investidores topam anunciar ao mercado que devem entrar no IPO.

Nesse formato, a Berkshire Hathaway, companhia de investimentos de Buffett, pode ficar com cerca de um terço das ações ofertadas pela Stone. A Berkshire indicou interesse em comprar cerca de 13,7 milhões de ações classe A da empresa brasileira, o que representa 33,5% da oferta primária da companhia. Considerando o volume total de venda, representa 28,7% da operação, de pouco mais de 47 milhões de ações. As gestoras T. Rowe Price e Madrone Opportunity, que já são acionistas, podem aumentar suas participações.

A entrada na Stone pode ser o maior investimento do megainvestidor em uma companhia brasileira. O valor de US$ 315,4 milhões (correspondente a cerca de R$ 1,2 bilhão) que a Berkshire está disposta a investir na Stone - considerando o volume total indicado ao preço máximo da faixa indicativa - é semelhante ao que a companhia de Buffett destinou, em agosto deste ano, à indiana One97 Communications. O grupo é controlador da Paytm, maior empresa de pagamentos móveis da Índia e também o primeiro grande investimento da Berkshire naquele país.

Até agora, o relacionamento mais próximo de Buffett com o Brasil se deu indiretamente, com sua participação conjunta em algumas empreitadas da companhia de investimentos brasileira 3G Capital. Um dos conselheiros da Stone, Roberto Motta, é um dos sócios fundadores e membro do conselho da 3G. No ano passado, a Berkshire também anunciou a intenção de expandir seus investimentos imobiliários para a América Latina, incluindo Brasil.

A Berkshire também sondou a possibilidade de aquisição de uma fatia na resseguradora brasileira IRB. A Berkshire tem em carteira papéis de diversas empresas do setor financeiro ou ligadas a meios de pagamento, como American Express, Visa, Mastercard, Apple e Wells Fargo. A cifra pretendida para a Stone é pouco representativa para o universo da Berkshire, companhia que tem receita de US$ 242 bilhões e valor de mercado de US$ 521 bilhões. Mas faz toda a diferença para a companhia brasileira. "Claro que é mais fácil elevar o preço da ação e atrair mais investidores quando o Buffett já comunicou que se interessa pela sua empresa", diz um gestor brasileiro.

Como antecipado pelo Valor, a Stone deu início ao processo com o objetivo de finalizá-lo antes do segundo turno das eleições no Brasil, que acontece no dia 28 de outubro. A precificação está prevista para o dia 25, conforme uma fonte, para estreia dia 26. "É um IPO ousado, pelo momento de mercado. Seria inviável no Brasil, onde os investidores estão arredios", considera o executivo de um banco de investimento.

O preço médio indicado no IPO da brasileira é superior, em múltiplo, ao da concorrente PagSeguro. Considerando o volume total de receita e lucro projetado para o ano pelos analistas, a Stone terá valor de mercado equivalente a 15,5 vezes o resultado anual, se chegar à Nasdaq ao preço médio. O valor de mercado atual da PagSeguro na Nyse é de US$ 9,56 bilhões, o que representa um múltiplo de 7,7 vezes a soma de receita e lucro projetados para o ano.

O capital da Stone é composto de 268.062.362 ações, divididas em classe A e classe B - essa com maior poder de voto. As ofertas primária e secundária serão somente de ações classe A. Assumindo as duas classes com a mesma cotação, na faixa mínima de US$ 21, o valor de mercado será de US$ 5,6 bilhões e, no teto de US$ 23, chegará a US$ 6,2 bilhões. Os acionistas fundadores da Stone não terão ações classe A, mas 61,4% das ações classe B - isso representará, após a oferta, 35,6% do capital total e 57,2% do poder de voto.

O acionista André Street já havia criado três empresas do setor de tecnologia de pagamentos antes de formar a Stone. Após a venda de uma delas, a Braspag, em sociedade com Eduardo Pontes, uniu-se aos bancos BTG Pactual e Pan para criar a Stone e concorrer com as credenciadoras de bancos Cielo e Rede e com a "moderninha", a maquininha da PagSeguro. Ao longo de cinco anos, os bancos deixaram o capital da empresa, que recebeu rodadas de investimentos de grandes gestoras, como a americana Tiger, a britânica Actis e a brasileira Gávea. Pontes é o vice-presidente do conselho da empresa.

 

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