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10/08/2017 - Maquininha de cartão comprada ganha espaço no mercado

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VALOR
Por Nathália Larghi

No início do ano passado, a dentista Rafaelle Oliveira resolveu trocar sua maquininha de cartão (POS) alugada da Rede, credenciadora do Itaú Unibanco, por uma Moderninha, da PagSeguro. Há um mês, a comerciante Luciane Mengue fez a mesma coisa em seu mercado: tirou a máquina da Vero, associada ao Banrisul, e comprou a da PagSeguro. Dora Gil, gerente de um restaurante em São Paulo, também substituiu a máquina da Cielo por uma Moderninha, que mantém junto com uma máquina alugada da Stone. Nenhuma das três se arrepende das trocas.

Esse é um movimento que vem sendo liderado por pequenos comércios e prestadores de serviço que buscam reduzir custos. Além de fugir do aluguel pelo uso da maquininha, ao recorrer às credenciadoras menores, os lojistas conseguem pagar taxas de desconto, que incidem sobre as vendas, inferiores às cobradas nos POS tradicionais. "A Moderninha aceita todos os principais cartões e eu não preciso pagar aluguel. Aqui no Sul está todo mundo trocando", afirma Luciane.

Dados do Banco Central divulgados em julho mostram que em 2016 o número de POS alugados - independentemente do modelo - caiu 3% em relação ao ano anterior. Foram, ao todo, mais de 140 mil aparelhos retirados do mercado. O recuo na comparação anual foi o primeiro desde 2008, dado mais antigo do levantamento.

Os resultados de Cielo e Rede, as duas maiores credenciadoras do país, ilustram a queda. No segundo trimestre de 2017, a Cielo registrou um recuo de 14,9% na base de POS ante o mesmo período de 2016. Atualmente, a empresa tem 1,76 milhão de terminais. Na Rede, a redução no número de maquininhas foi ainda maior, de 21,9%, para 1,3 milhão de máquinas. Em entrevista recente ao Valor, Fernando Chacon, presidente da Rede, disse que os novos concorrentes já devem ter 20% do mercado, com destaque para Getnet (do Santander), Stone, Bin e PagSeguro.

Segundo especialistas, essa substituição é motivada pelo cenário econômico recessivo, que incentiva os comerciantes a cortarem custos e faz pequenos lojistas virarem autônomos. "De 2015 pra cá, muitos negócios que eram grandes e alugavam POS diminuíram de tamanho e passaram a optar pelas máquinas com custo menor. Alguns até fecharam e o dono e funcionários viraram trabalhadores informais, que também escolhem esses modelos", afirma Juliana Inhasz, professora do Insper.

Nos modelos alternativos, o valor pago para comprar os aparelhos pode ser dividido em parcelas que, geralmente, saem mais em conta que o aluguel cobrado pela locação de POS tradicionais. "Pagava mais de R$ 60 por mês de aluguel da maquininha da Rede. Na Moderninha, paguei 12 vezes de R$ 39,90 e acabou. Ainda posso levá-la a outros consultórios em que atender", diz a dentista Rafaelle.

É diferente do que acontece com as maquininhas do tipo "mobile" de credenciadoras como Cielo, Rede, Vero e Getnet. Embora essas versões de POS também sejam compactas, funcionem via chip de celular e tenham tarifas mais atrativas para os pequenos negócios, o modelo de aluguel ainda prevalece. Por isso, a maioria delas também é considerada no levantamento feito pelo Banco Central.

As novas credenciadoras também cobram um percentual do valor das vendas na forma de taxa de desconto (MDR, na sigla em inglês), que aumenta proporcionalmente ao número de parcelas em que a venda é feita. Mas como entre os pequenos comércios e prestadores de serviços o parcelamento é menos comum, o custo acaba compensando, segundo Robson Barbosa, consultor financeiro.

Barbosa também trocou o POS da Cielo pela Moderninha em sua empresa de distribuição de aparelhos terapêuticos, mas ele explica que é fundamental que cada lojista entenda bem as taxas cobradas e as necessidades do seu negócio. "Não é para todos que essa troca funciona. Cada comerciante precisa fazer as contas para ver qual modelo funciona melhor naquele tipo de empresa ou serviço", afirma.

Além de cobrarem taxas de parcelamento melhores, as grandes credenciadoras podem ser mais vantajosas para alguns lojistas porque os bancos ligados a essas empresas oferecerem linhas de crédito ou de antecipação usando os recebíveis como uma garantia.

"Rede, Cielo e Getnet estão ligadas aos grandes bancos, que reconhecem aquela quantia que o comerciante vai receber pelas compras no cartão e autorizam empréstimos, por exemplo. É um obstáculo para as outras credenciadoras, que nem sempre conseguem oferecer isso", explica Vitor França, consultor da Boanerges & Cia.

A possibilidade de escolher qual modelo ou credenciadora melhor se encaixa para a empresa só se tornou viável após uma mudança nas regras do BC. Em setembro de 2015, o BC editou a circular 3.765 e determinou o fim da exclusividade entre bandeiras e credenciadoras. Foi justamente essa medida que permitiu que as maquininhas das fintechs e de empresas menores aceitassem a maioria dos cartões, o que tornou o mercado mais competitivo e contribuiu para a redução do número de POS em circulação.

"Uma única maquininha agora aceita mais bandeiras. O pequeno negócio, que tinha um monte de POS, agora tem uma só. Em um momento de crise, em que o lojista quer reduzir custos, essa medida do BC ajudou o comerciante", afirma França. Mesmo assim, ainda há comerciantes que preferem ter duas maquininhas disponíveis. A diferença é que agora eles podem escolher entre vários modelos e decidir qual está mais em conta. Foi o que aconteceu com a gerente de restaurante Dora Gil, que trocou uma maquininha da Cielo por uma Moderninha e por um modelo alugado da Stone.

Ela conta que pagava R$ 140 pelo aluguel da Cielo, com uma taxa de 3,10%. Pela Stone, a gerente paga um aluguel de R$ 79 e uma taxa de 1,79% sobre as vendas. O valor pago pela Moderninha foi entre R$ 500 e R$ 600, dividido em cinco vezes. As taxas, segundo Dora, são de 2,39%.

Procurada, a Cielo afirmou em nota que há um ajustamento natural na base de POS por conta do dinamismo do mercado, mas frisou que a redução tem desacelerado trimestre a trimestre. A companhia ainda reforçou que se prepara para ter um portfólio diversificado de produtos para se diferenciar dos novos concorrentes nesse cenário competitivo. Ainda segundo a empresa, "a base de equipamentos mobile não entra em substituição às máquinas de maior valor agregado, mas, sim, endereça um perfil específico de cliente, que são empreendedores, profissionais liberais, autônomos ou pequenos clientes que praticamente representam um dinheiro novo para a companhia".

Assim como a Cielo, a Rede destacou o mercado competitivo e afirmou, em nota, que sua estratégia é seguir investindo na fidelização de novos clientes, "oferecendo uma prateleira completa de produtos e soluções inovadoras de adquirência e serviços bancários".

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