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20/11/2014 - BB e Cielo dividirão receita de cartões

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Por Talita Moreira e Felipe Marques | De São Paulo | Valor Econômico

A Cielo e o Banco do Brasil (BB) serão sócios em uma nova empresa, controlada pela credenciadora de cartões, que irá acomodar algumas das principais receitas e despesas que o banco público tem na emissão de cartões, conforme apurou o Valor. A tarifa que o banco emissor recebe toda vez que é feita uma compra com cartão (chamada tarifa de intercâmbio) passará a ser recebida pela nova empresa, e não mais pelo Banco do Brasil. No entanto, o banco continuará sendo o emissor dos cartões e, portanto, manterá a carteira de crédito originada com o uso dos plásticos por sua base de clientes.

A nova empresa será, ainda, responsável por pagar às bandeiras dos cartões do BB as tarifas de royalties, além de serviços que envolvem o processamento dos cartões do banco e outras tarefas operacionais do negócio de cartões do banco público.

Pelos termos do acordo, a Cielo vai colocar cerca de R$ 9 bilhões no negócio e terá o controle acionário da nova empresa, enquanto o BB vai aportar tais ativos. Metade dos recursos será levantada por meio de uma emissão de debêntures da credenciadora de cartões, que captura compras com cartão feitas no varejo. Os bancos que vão coordenar a emissão são Bradesco BBI, Banco do Brasil (BB) Investimentos, BTG Pactual e Banco Votorantim, afirmam fontes. O restante será pago a prazo, numa espécie de "financiamento" pelo BB. O desenho da operação foi antecipado na tarde de ontem pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.

Toda vez que é feita uma compra no cartão, o lojista paga um percentual dessa transação para a credenciadora (que capturou o pagamento) e para o banco emissor do cartão. A fatia que cabe ao emissor é chamada de tarifa de intercâmbio, é definida pela bandeira do cartão (empresas como Visa, MasterCard e Elo) e varia conforme os setores em que o cartão foi usado.

Na nova estrutura, a tarifa de intercâmbio passará a ser computada na joint-venture. Ou seja, a credenciadora de cartões também colherá os benefícios da tarifa de intercâmbio, antes restrita ao banco emissor. Como essa tarifa é definida pelas bandeiras, está menos sujeita à pressão competitiva. Já a taxa cobrada pela Cielo do lojista acaba sendo pressionada pela competição com outras credenciadoras - disputa que se intensificou nos últimos anos.

A joint-venture também será um "backoffice" tecnológico da operação de cartões do BB. Ficará responsável por serviços de atendimento ao portador de cartões, de emissão e remessa de cartões e faturas, de avaliação de risco de fraude e autorização das transações, de integração tecnológica com a bandeira do cartão, contratação de data centers entre outros.

O BB é assessorado na operação pelo BTG Pactual e pelo Rothschild. A Cielo conta com a assessoria financeira do Deutsche Bank e do J.P. Morgan.

O modelo da operação foi uma evolução da ideia original de fazer a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da BB Cartões, que foi aventada meses atrás e posteriormente engavetada. "Com o mercado do jeito que está, o BB não conseguiria um valor melhor em um IPO", afirma fonte a par do assunto. De acordo com esse interlocutor, o BB vai reduzir custos operacionais e se beneficiar duplamente de ganhos de sinergia na nova empresa - como acionista da companhia e também da Cielo.

Além de gerar recursos para o Banco do Brasil, o acordo vai tornar mais leve a estrutura da instituição, ajudando o BB a reduzir custos trabalhistas e operacionais. Como banco público, o BB tem mais dificuldade que os pares privados em demitir, por exemplo, e caso vá terceirizar algum serviço, precisa abrir uma licitação e escolher o menor preço, e não necessariamente o melhor serviço.

Para a Cielo, a nova empresa representará uma forma de diversificar suas receitas para além das tradicionais de credenciamento. Com o avanço das tecnologias de captura de transação e da competição no segmento, a receita da Cielo com aluguel de máquinas para lojistas tende a encolher no médio a longo prazos. Outro ganho que pode ser pressionado no futuro é a linha de adiantamento de recebíveis para lojistas, uma vez que o Banco Central discute com o setor encurtar o número de dias que demora para o comerciante receber os recursos das compras feitas no cartão.

O projeto envolve inicialmente Cielo e Banco do Brasil, mas não há exclusividade. Segundo o Valor apurou, há um plano mais amplo, de longo prazo, em que se cogita a possibilidade de integração tecnológica das operações de cartões da bandeira Elo e, possivelmente, o Bradesco. Hoje, os cartões do Bradesco são processados na Fidelity do Brasil (FIS), empresa em que o banco detém participação indireta. A lógica da unificação é que custos de data center, call center, conexão com redes telefônicas e outros são duplicados nas diversas empresas do grupo Elo e poderiam ser concentrados em um só lugar.

O balanço do banco público dá uma ideia do tamanho da operação que deve ser partilhada com a Cielo. O resultado líquido de impostos da operação BB Emissor, que não abrange as receitas e despesas financeiras de crédito rotativo em cartão, foi de R$ 677 milhões nos nove meses encerrados em setembro, com crescimento de 68,82% ante o ano anterior. As receitas foram de R$ 3,2 bilhões e as despesas, de R$ 2,13 bilhões. Além das tarifas de intercâmbio, tais receitas incluem anuidades e outras taxas cobradas de portadores de cartão. O Banco do Brasil encerrou setembro com uma base de 82,2 milhões de cartões de crédito e débito emitidos, com crescimento 1,5% na comparação anual.

Sem dar mais detalhes da transação, na segunda-feira, BB e Cielo anunciaram que negociavam uma aliança em cartões. (Colaborou Vinícius Pinheiro)

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