Museu do Cartão de Crédito

13/05/2014 - Rede perde espaço para rivais

Voltar

Por Felipe Marques | De São Paulo

Em 1º de julho de 2010, quando Cielo e Rede (ex-Redecard) perderam a exclusividade de capturar operações de pagamento com cartões Visa e MasterCard, a expectativa era que a data marcasse mudanças profundas para o setor no país. Algumas transformações vieram, sim, mas de forma muito diferente do que se imaginava à época. Hoje, quase quatro anos depois, 95% do mercado segue concentrado nas máquinas das duas companhias pioneiras no setor. No entanto, a Rede perdeu mais espaço. Da enxurrada de empresas que prometiam ganhar mercado, apenas o Santander é representativo.

A queda nos preços cobrados de lojistas, consequência esperada após a abertura, também vem ficando mais suave, depois de um declínio mais acentuado em 2010. "Achávamos que a concorrência seria mais forte e tanto a Cielo como a Rede teriam perdas maiores de market share após a abertura", afirma Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs responsável pelo setor financeiro. "Nós chegamos até a projetar queda no lucro da Cielo, o que não aconteceu", diz. "A taxa cobrada do lojista [MDR, na sigla em inglês] também não caiu tanto quanto imaginávamos."

No segundo trimestre de 2010, a Cielo respondia por 57,7% do mercado, enquanto a Rede representava 42,3%. No fim daquele ano, a Rede fez um forte movimento de corte de preços para ganhar mercado e sua participação subiu para 44,8%, enquanto a Cielo ficou em 54,2%. O Santander, que entrou na briga, tinha 1%.

De lá para cá, porém, a Rede perdeu o espaço que conquistou pós-abertura e mais um pouco, fechando o primeiro trimestre deste ano com 38,2% do mercado. Já a Cielo ficou com 56%. O novato Santander, com 5,8%, roubou, em maior parte, fatia da Rede. As outras empresas que entraram no segmento - Banrisul e as americanas Elavon, Global Payments e First Data - não chegam a 1% do mercado hoje.

A queda de preços após a abertura também se tornou mais gradual após os primeiros meses. No segundo trimestre de 2010, as taxas de desconto cobradas de lojistas (MDR) eram de 2,96% em transações de crédito e de 1,59% no débito. Um ano depois, haviam recuado para 2,79% e 1,55%, respectivamente. No quarto trimestre de 2013, dado mais recente disponível, as taxas estavam em 2,76% e 1,56% - o débito ficou praticamente estável. Os dados são da associação do setor (Abecs), e mostram a taxa bruta, ou seja, incluem tanto a parcela do banco como a da credenciadora.

Na abertura do mercado, o Goldman Sachs chegou a projetar queda de 0,5 ponto percentual na taxa de desconto que a Cielo cobrava em cartões de crédito.

Marcelo Noronha, presidente da Abecs, afirma que, na prática, a queda no MDR foi maior do que mostra a taxa média. A questão é que, ao mesmo tempo em que os preços caíram, aumentou o volume de transações com cartão de pequenos e médios estabelecimentos, que pagam uma taxa maior que os grandes.

"A composição da taxa média mudou com a entrada de pequenos lojistas. Antes da abertura, os grandes estabelecimentos já aceitavam cartão", diz. Para ele, a tendência é que as taxas caiam nos próximos anos, graças à competição e ao próprio crescimento do setor, uma vez que o lojista com mais volume paga taxas menores.

"A margem das credenciadoras ficou mais apertada após a abertura, já que a parcela do MDR que é repassada aos bancos [a tarifa de intercâmbio] não mudou", afirma Noronha. De fato, números da Cielo mostram a pressão sobre as margens da credenciadora pós-abertura. Em 2010, a margem líquida da companhia estava em 45,9%. Em 2013, o indicador caiu para 39,8%, ainda bastante alto na comparação com outros setores da economia.

O preço também explica o porquê de a Rede ter perdido mais espaço que a rival após a abertura. A agressividade em preços que mostrou em 2010 pesou nos resultados da companhia, que acabou adotando uma posição mais conservadora. De lá para cá, houve também trocas de executivos, fechamento de capital em 2012 e agora mais uma reestruturação. O objetivo é aproximar a oferta de maquininhas dos demais produtos bancários de seu controlador, o Itaú Unibanco, e concentrar no gerente da agência o relacionamento com lojistas. Em 2013, contratou mais 300 funcionários.

Para Carlos Daltozo, analista da BB Investimentos, as perdas de mercado da Rede indicam que a transição para o novo modelo não acabou. Além disso, a nova estratégia da credenciadora cria uma correlação maior entre o desempenho da Rede e o do crédito para empresas, em especial para pequenas e médias. Como os empréstimos crescem pouco, a Rede sofre.

O Valor apurou que a reestruturação da Rede deve ser concluída na segunda metade deste ano. Por enquanto, o novo modelo de oferta vale apenas para grandes lojistas, que estão sob o guarda-chuva do Itaú BBA. Na rede de agências do varejo, ainda está em fase de testes, dada a complexidade de integração de sistemas e a necessidade de treinamento. A expectativa da credenciadora é diminuir a perda de espaço para a concorrência, em especial para o Santander, uma vez a integração concluída. A tese é que poderá usar outros serviços bancários para competir, sem necessariamente recorrer a um corte nos preços.

Em relatório, o banco Brasil Plural argumenta que a Rede deve ser a credenciadora a mais perder espaço a novos entrantes. A lógica é que a fatia de mercado da credenciadora (40%) é superior à fatia que o Itaú e os demais bancos parceiros (Tribanco, Safra) têm em agências, cerca de 22%. Como a agência é o canal tradicional de venda de máquinas, os dois tendem a se aproximar. Por outro lado, do ponto de vista de emissor de cartões, o Itaú tem 40% do mercado.

Outro argumento para a resistência da fatia de mercado da Cielo após a abertura são dois cartões específicos que apenas ela captura: o Agrocard, para produtos agrícolas, e a bandeira Elo, que vem sendo emitida por Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Distribuição limita avanço de novatos em cartões

Por Felipe Marques | De São Paulo

Se Cielo e Rede conseguiram manter uma fatia tão grande do mercado de cartões em suas mãos após a abertura, boa parte da razão está ligada às dificuldades de novos competidores de atuarem na captura de pagamentos no varejo. O principal desafio tem sido criar uma rede de distribuição capaz de rivalizar com as de Bradesco e Banco do Brasil, para a Cielo, e Itaú Unibanco, para a Rede. A tarefa de adaptar estratégias e tecnologias usadas no exterior para a realidade brasileira também contribui para o atraso.

Foram cinco novas empresas que entraram no setor de credenciamento de cartões desde a abertura do mercado, em julho de 2010: Santander, Banrisul e as americanas Elavon (em parceria com o Citi), Global Payments (com o Banco de Brasília) e a First Data (com o Bancoob, das cooperativas de crédito). O BTG Pactual também tem um projeto para o segmento.

Ao que parece, todas se depararam com um mercado mais difícil que o antecipado. Santander e Elavon, por exemplo, revisaram para baixo as metas que firmaram no lançamento. O Santander esperava ter 7% do mercado no fim de 2013. Fechou o ano com 6%, a maior fatia entre os novatos, enquanto tenta atrair grandes lojistas. Já a Elavon, que almejava 10% de participação de mercado até o fim de 2015, adiou a meta para o fim de 2018.

"No mundo todo, o mercado de credenciamento é concentrado, já que exige escala", diz Marcelo Noronha, presidente da associação do setor (Abecs). "As menores de hoje, com certeza, vão ganhar participação de mercado no futuro, mas é difícil estimar quanto."

Com pesados investimentos para entrar na briga com Cielo e Rede, não é à toa que as novatas se movimentam para expandir a distribuição para além dos bancos parceiros. Em geral, o movimento envolve alianças com outras instituições. A Elavon, por exemplo, anunciou parceria com a Caixa Econômica Federal. A Global Payments firmou acordo com o Banco do Nordeste e tem abordado outros bancos regionais.

Já o Banrisul, que batizou sua credenciadora de Vero, venceu licitação recente para capturar pagamentos em cartão feitos no metrô de São Paulo para compra de passagens. Hoje, com uma atuação concentrada no Rio Grande do Sul, o banco estatal também tenta ganhar espaço no Estado vizinho, Santa Catarina. Bolivar Moura, presidente da Banrisul Cartões, afirma que a meta é ter 5% do mercado de cartões em cinco anos.

A First Data promete que um de seus diferenciais estará em um serviço que combina a máquina de captura (POS) com outras funções de automação comercial para lojistas, afirma a presidente da empresa no Brasil, Deborah Guerra. A empresa projeta chegar entre 5% a 10% do mercado no fim de 2018.

 

 

Fonte: Valor Economico

Newsletter

Preencha os campos abaixo e receba nossas notícias:

Rua Visconde do Rio Branco, 1488 - 18º andar - Centro - Curitiba/PR

Contato
Telefone Logo

2020 Museu do Cartão - Todos os direitos reservados